Noutros países isso seria bom. Bem visto até. Aqui olham-me de soslaio. Julgam-me incompetente, preguiçoso. Rotulam-me como se eu me tivesse tornado professor apenas porque, coitadinho de mim, nada mais conseguia fazer. Como se vigiar, educar e formar os seus petizes fosse algo que nunca lhes passaria pela cabeça fazer.
Pois bem, EU GOSTO!
Gosto de ensinar. E tenho feito por ser cada vez melhor nisso. Ensino a jovens desde os 7 anos aos 59. Desde a primária a acções de formação específicas para activos empregados. E no entanto, continuo a ser visto como um cidadão de segunda, alguém que não trabalha, com demasiado tempo livre. Porque, obviamente, o meu trabalho é sempre fácil demais! É fácil dar aulas! Estar ali 90 ou 240 minutos em pé a dar uma aula é canja! Sem ironia! Não é muito difícil, apesar de ter que haver um controlo da disciplina e uma constante motivação, não é das coisas mais complicadas. Diacho, é o meu trabalho! É o meu trabalho visível! Aquele que todos vêm. O problema é que se calhar muitos só vêm isso.
O problema é que se minimiza tudo o resto. O estudo, a constante actualização que um professor tem que fazer (sendo professor de informática se calhar esta necessidade impera... há que estar permanentemente actualizado em vários programas, desde os sistemas operativos às ferramentas de produtividade, passando pelas linguagens de programação), o trabalho fora dos olhares de todos, que incluem o estudo, a preparação de aulas, a preparação de material próprio (quando o adoptado pela escola ou pelo ministério é inexistente, insuficiente ou inadequado), a correcção de testes, a resposta a toda uma burocracia que sabemos que é mal nacional e que incluem matrizes e critérios de avaliação para testes e exames que se sabe de antemão que não irão ser realizados.
Da mesma forma, se esquece que ser professor é mais do que preparar aulas e leccioná-las! É, muitas vezes, educar! É amparar jovens que não têm o necessário apoio em casa, que vêm de lares destruídos, que são vítimas de violência, que são abusados, que têm problemas como todos nós e falta de gente com quem desabafar como muitos de nós. Ser professor é estar permanentemente de braços abertos para tudo quanto os nossos alunos nos trazem. Porque da mesma maneira que eu não ensino apenas, os meus alunos não aprendem apenas. Riem, sofrem, choram, estudam, preguiçam, brincam... são pessoas!
Tal como eu.
segunda-feira, 14 de maio de 2007
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