sábado, 12 de julho de 2008

Novos tempos

De um momento para o outro, o país viu-se inundado de pequenos génios matemáticos. Mas não eram os exames que eram fáceis. Não. De repente, todas as deficiências que existiam nesta disciplina foram quase que completamente varridas do mapa.

Por esse motivo venho aqui pedir um enorme aplauso à nossa excelente Ministra da Educação, pois sem ela nada disto teria acontecido. Que se mantenha em funções muitos e bons anos ! Tenho a certeza que vão aparecer muitos Terence Tao's.



Como este é o meu primeiro post num blog, deixo aqui o aviso: as linhas que escrevi acima foram escritas num estilo irónico.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

sábado, 5 de abril de 2008

A balbúrdia na escola

Os direitos dos alunos, consagrados no respectivo estatuto, são os mais abrangentes e absurdos que se possa imaginar

As cenas de pancadaria na escola têm comovido a opinião. A última ocorreu numa escola do Porto e foi devidamente filmada por um colega. Em poucas horas, o clip correu mundo através do YouTube. A partir daí, choveram as análises e os comentários. Toda a gente procura responsáveis, culpados e causas. Os arguidos são tantos quanto se possa imaginar: os jovens, os professores, os pais, o ministério e os políticos. E a sociedade em geral, evidentemente. As causas são também as mais diversas: a democracia, os costumes contemporâneos, a cultura jovem, o dinheiro, a televisão, a publicidade, a Internet, a permissividade, a falta de valores, os "bairros", o rap, os imigrantes, a droga e o sexo. Para a oposição, a culpa é do Governo. Para o Governo, a culpa é do Governo anterior. O trivial


Deve haver um pouco disso tudo, o que torna as coisas mais complicadas - sobretudo quando se pretende tomar medidas ou conter a vaga crescente de violência e balbúrdia. Se as causas são múltiplas, por onde começar? Mais repressão? Mais diálogo? Mais disciplina? Mais co-gestão? Há aqui matéria para a criação de várias comissões, a elaboração de um livro branco, a aprovação de novas leis e a realização de inúmeros estudos. Até às eleições, haverá debates parlamentares sobre o tema. Não tenho a certeza, nem sequer a esperança, que o problema se resolva a breve prazo.

De qualquer maneira, a ocasião era calhada para voltar a ver a obra-prima do esforço legislativo nacional, o famoso "estatuto do aluno". A sua última versão entrou em vigor em finais de Janeiro, sendo uma correcção de outro diploma, da mesma natureza, de 2002. Trata-se de uma espécie de carta constitucional de direitos e deveres, a que não falta um regulamento disciplinar. Não se pode dizer que fecha a abóbada do edifício legal educativo, porque simplesmente tal edifício não existe. É mais um produto da enxurrada permanente de leis, normas e regras que se abate sobre as escolas e a sociedade. É um dos mais monstruosos documentos jamais produzidos pela administração pública portuguesa. Mal escrito, por vezes incompreensível, repete-se na afirmação de virtudes. Faz afirmações absolutamente disparatadas, como, por exemplo, quando considera que "a assiduidade (...) implica uma atitude de empenho intelectual e comportamental adequada..."! Cria deveres inéditos aos alunos, tais como o de se "empenhar na sua formação integral"; o de "guardar lealdade para com todos os membros da comunidade educativa"; ou o de "contribuir para a harmonia da convivência escolar". E também os obriga a conhecer e cumprir este "estatuto do aluno", naquele que deve ser o pior castigo de todos! Quanto aos direitos dos alunos, são os mais abrangentes e absurdos que se possa imaginar, incluindo os de participar na elaboração de regulamentos e na gestão e administração da escola, assim como de serem informados sobre os critérios da avaliação, os objectivos dos programas, dos cursos e das disciplinas, o modo de organização do plano de estudos, a matrícula, o abono de família e tudo o que seja possível inventar, incluindo as normas de segurança dos equipamentos e os planos de emergência!



Trata-se de um estatuto burocrático, processual e confuso. O regime de faltas, que decreta, é infernal. Ninguém, normalmente constituído, o pode perceber ou aplicar. Os alunos que ultrapassem o número de faltas permitido podem recuperar tudo com uma prova. As faltas justificadas podem passar a injustificadas e vice-versa. As decisões sobre as faltas dos alunos e o seu comportamento sobem e descem do professor ao director de turma, deste ao conselho de turma, destes à direcção da escola e eventualmente ao conselho pedagógico. As decisões disciplinares são longas, morosas e processualmente complicadas, podendo sempre ser alteradas pelos sistemas de recurso ou de vaivém entre instâncias escolares. Concebem-se duas espécies de medidas disciplinares, as "correctivas" e as "sancionatórias". Por vezes, as diferenças são imperceptíveis. Mas a sua aplicação, em respeito pelas normas processuais, torna inútil qualquer esforço. As medidas disciplinares são quase todas precedidas ou acompanhadas de processos complicados, verdadeiros dissuasores de todo o esforço disciplinar. As medidas disciplinares dependem de várias instâncias, do professor aos órgãos da turma, destes aos vários órgãos da escola e desta às direcções regionais. Os procedimentos disciplinares são relativos ao que tradicionalmente se designa por mau comportamento, perturbação de aula, agressão, roubo ou destruição de material, isto é, o dia-a-dia na escola. Mas a sua sanção é de tal modo complexa que deixará simplesmente de haver disciplina ou sanção.



O estatuto cria um regime disciplinar em tudo semelhante ao que vigora, por exemplo, para a administração pública ou para as relações entre administração e cidadãos. Pior ainda, é criado um regime disciplinar e sancionatório decalcado sobre os sistemas e os processos judiciais. Os autores deste estatuto revelam uma total e absoluta ignorância do que se passa nas escolas, do que são as escolas. Oscilando entre a burocracia, a teoria integradora das ciências de educação, a ideia de que existe uma democracia na sala de aula e a convicção de que a disciplina é um mal, os legisladores do ministério (deste ministério e dos anteriores) produziram uma monstruosidade: senil na concepção burocrática, administrativa e judicial; adolescente na ideologia; infantil na ambição. O estatuto não é a causa dos males educativos, até porque nem sequer está em vigor na maior parte das escolas. Também não é por causa do estatuto que há, ou não há, pancadaria nas escolas. O estatuto é a consequência de uma longa caminhada e será, de futuro, o responsável imediato pela impossibilidade de administrar a disciplina nas escolas. O estatuto não retira a autoridade na escola (aos professores, aos directores, aos conselhos escolares). Não! Apenas confirma o facto de já não a terem e de assim perderem as veleidades de voltar a ter. O processo educativo, essencialmente humano e pessoal, é transformado num processo "científico", "técnico", desumanizado, burocrático e administrativo que dissolve a autoridade e esbate as responsabilidades. Se for lido com atenção, este estatuto revela que a sua principal inspiração é a desconfiança dos professores. Quem fez este estatuto tinha uma única ideia na cabeça: é preciso defender os alunos dos professores que os podem agredir e oprimir. Mesmo que nada resolva, a sua revogação é um gesto de saúde mental pública.


in Público, por António Barreto

segunda-feira, 24 de março de 2008

O professor - essa máquina

100% de assiduidade para poder ter a classificação Excelente.
95% de assiduidade para poder ter a classificação Muito Bom.

Esta assiduidade exigida é absoluta. Não contempla faltas justificadas ou injustificadas. Não flexibiliza perante doença, acidentes ou prestação de auxílio a filhos menores. Professor não tem furo no pneu, não tem filhos com consultas no médico, não adoece, não tem familiares a falecer. Ou, se tiver, convém que seja TUDO no período de interrupção lectiva.

Já somos obrigados a ter as nossas férias nos meses de verão - época alta. Parece que vamos tentar juntar doenças, falecimento de familiares, consultas no médico e outros azares para essa altura.

sexta-feira, 21 de março de 2008

Onde está a Ministra?

Ela aparece 40 vezes por semana na televisão. Cara de poucos amigos, geralmente. Não gosta que lhe façam muitas perguntas que fujam muito daquilo que decorou previamente - pedagogicamente falando, esta Ministra seria uma péssima aluna, daquelas que decoram em vez de entenderem a matéria - e responde torto! Isto quando se digna a responder, como ficou esta semana provado no parlamento, que até mereceu o comentário irónico de Ana Drago.

Pois bem, tem-nos entrado pela casa dentro, via TV, a falar dos "professorzecos" (como ela nos chama), da avaliação, das escolas que querem fazer a avaliação, do enormíssimo sucesso do seu trabalho, do grandioso legado que, certamente, nos deixará.

Esta semana veio a público o caso da agressão feliz ou infelizmente filmado por um aluno. Deixem-me analisar esta frase antes de seguir em frente. "Agressão". Uns papás dirão que exagero, que a aluna não agrediu ninguém. Provavelmente, os mesmos papás que, caso a situação se invertisse ou se um professor ousasse tocar no proverbial cabelo de sua menina classificariam o acto como uma "brutal agressão". Nada que me tire o sono, portanto. O "feliz ou infelizmente filmado", por seu lado, reporta-se à filmagem em si, feita com um telemóvel. Por um lado é bom que situações destas venham a público, para que se veja o que é, na verdade, o trabalho de um professor. Pois é, é que os filhos que vocês "educam" aí em casa desta forma, agem desta forma connosco. Não são os santinhos que alguns pintam, de auréola redondinha a beijar-lhe a testa. Por outro, quem o filmou, fê-lo utilizando um equipamento proibido na sala de aula. Fê-lo, filmando e rindo-se alarvemente da situação em vez de intervir. Gozou com a situação em vez de a criticar, porque ele também é prejudicado por não ter a aula que deveria ter - e ser do seu interesse. No fundo, foi mais um idiota a aplaudir a festa.

Mas adiante. A mesma Ministra que tanto tem aparecido, o mesmo Primeiro-Ministro que tanto tem esganiçado a voz a defender as políticas e o resultado das políticas da sua subordinada, a mesma Ministra que, no fundo, é a nossa "patroa", desta vez calou-se.

Nem uma palavra de apreço, de solidariedade, de crítica a este tipo de alunos que - pusesse ela os pezinhos numa escola e ficaria a saber - estão em todo o lado. O meu "patrão" não defendeu a minha classe. Remeteu-se ao silêncio. A senhora que apregoa os grandes resultados das suas políticas foi incapaz de assumir que este é um sub-produto das mesmas, resultante da desautorização, da falta de respeito e do enxovalhamento público da figura do Professor que ela própria promoveu. Tudo são rosas! Os números dizem-nos tudo o que há para dizer! Todos os alunos passam de ano, o número de alunos a desistir do ensino desceu a pique, há cada vez mais alunos a concluírem o ensino obrigatório! Fantástico! Soem as trombetas!

Mas não são melhores, senhora Ministra! Podem ter o 9º ano, mas são, em muitos casos, aquilo que se vê ali. Gentinha sem educação, sem qualquer respeito pela autoridade, sem métodos de trabalho, sem responsabilidade cívica ou laboral, sem controlo, sem brio. São o resultado do esplendoroso culto da mediocridade por si (e pelos anteriores ministros, vá, que a culpa não será só sua) implementado, cultivado, acarinhado. E, senhora Ministra, um dia recolherá os frutos que semeou. Terá uma força de trabalho embrutecida, de serviços mínimos. De maus advogados, engenheiros, médicos, enfermeiros, polícias e bombeiros. De maus empregados de mesa ou de caixa de supermercado. De maus pais que, no seguimento destes de hoje em dia, continuarão a formar maus filhos, sem educação. É ESTA a cultura do país, não é a dos livros. É ESTA a imagem do nosso país. É que não adiantam os números nos seus relatórios a dizer-nos que os alunos acabam o 9º ano. É que muitos acabam-no apesar deste tipo de atitudes e posturas que não são uma excepção à regra mas sim o dia a dia nas escolas. E acabam-no porque estão protegidos e encobertos por um sistema que tudo faz para que não deixa que os alunos saiam da escola, mas que pouco ou nada faz para que APRENDAM na escola.

E andar na escola não implica aprender, como qualquer pessoa com bom senso sabe.

E para quando a avaliação dos papás?

O Carolina Michaëlis, que já teve o belo nome de liceu, não serve os miúdos do bairro do Aleixo, no Porto. Não, aquele vídeo (ver págs. 4 e 5) não mostra gente com desculpas fáceis, vindas do piorio. Pela localização daquela escola, quem para lá vai vive às voltas da Boavista e os pais têm jantes de liga leve sem precisar de as gamar. Os pais da miúda histérica que agride a professora de francês estarão nessa média. Os pais do miúdo besta que filma a cena, também. Tudo isso nos remete para a questão tão badalada das avaliações. Claro que não me permito avaliar a citada professora. A essa senhora só posso agradecer a coragem. E pedir-lhe perdão por a mandar para os cornos desses pequenos cobardolas sem lhe dar as condições de preencher a sua nobre profissão. Já avaliar os referidos pais, posso: pelo visto, e apesar das jantes de liga leve, valem pouco. O vídeo mostrou-o. É que se ele foi filmado numa sala de aula, o que mostrou foi a sala de jantar daqueles miúdos.|

por Ferreira Fernandes

in http://dn.sapo.pt/2008/03/21/opiniao/e_para_quando_a_avaliacao_papas.html

O Não-Professor

Reproduzo aqui na íntegra um texto que me chegou por e-mail, não assinado:

Faço projectos, planos, planificações;

Sou membro de assembleias, conselhos, reuniões;

Escrevo actas, relatórios e relações;

Faço inventários, requerimentos e requisições;

Escrevo actas, faço contactos e comunicações;

Consulto ordens de serviço, circulares, normativos e legislações;

Preencho impressos, grelhas, fichas e observações;

Faço regimentos, regulamentos, projectos, planos, planificações;

Faço cópias de tudo, dossiers, arquivos e encadernações;

Participo em actividades, eventos, festividades e acções;

Faço balanços, balancetes e tiro conclusões;

Apresento, relato, critico e envolvo-me em auto-avaliações;

Defino estratégias, critérios, objectivos e consecuções;

Leio, corrijo, aprovo, releio múltiplas redacções;

Informo-me, investigo, estudo, frequento formações;

Redijo ordens, participações e autorizações;

Lavro actas, escrevo, participo em reuniões;

E mais actas, planos, projectos e avaliações;

E reuniões e reuniões e mais reuniões!...



E depois ouço,

alunos, pais, coordenadores, directores, inspectores,

observadores, secretários de estado, a ministra

e, como se não bastasse, outros professores,

e a ministra!...



Elaboro, verifico, analiso, avalio, aprovo;

Assino, rubrico, sumario, sintetizo, informo;

Averiguo, estudo, consulto, concluo,

Coisas curriculares, disciplinares, departamentais,

Educativas, pedagógicas, comportamentais,

De comunidade, de grupo, de turma, individuais,

Particulares, sigilosas, públicas, gerais,

Internas, externas, locais, nacionais,

Anuais, mensais, semanais, diárias e ainda querem mais?

- O Quê? Querem que dê aulas!?...

quinta-feira, 20 de março de 2008

A propósito da agressão à professora...

Fica um excerto de um texto escrito no jornal "Sexta", por José Pedro Gomes:

Depois de termos todos percebido a necessidade de grandes mudanças nas políticas que têm sido seguidas por todos os partidos de Governo nos últimos? 30 anos, de percebermos que o mérito nem sempre é a forma de se progredir nas carreiras, etc, chegou um senhor muito direitinho que disse, aos gritos e pausadamente, que ia mudar esse estado de coisas e finalmente fazer as reformas que todos sentimos como necessárias. Pensou, pensou, juntou mais alguns que alinhassem com ele, mas que não levantassem muitas ondas, e chegou ao Governo.

Aí começou a fazer uma parte do que tinha dito e começou a mudar coisas. Mas não a mudar o fundo que realmente interessava?

Na Cultura não mexeu em nada de importante ? o que já é uma política relevante.

Nas Obras Públicas andou à pancada com o país até ter de reconhecer que o «deserto» da margem sul era relevante. Mas continuou, através de PIN artificiosos a dar cabo do país ainda protegido, o que é relevante para a malta do betão.

No Ambiente ainda não fez nada de jeito, mas isso não é relevante.

Na Saúde substituiu urgências e maternidades por ambulâncias mesmo antes de as comprar, mas isso é um «esquecimento» irrelevante?

Na Justiça fez uma coisa da maior relevância: tirou as férias aos juízes ? o que não mexeu um milímetro nos atrasos «normais», mas era relevante.

E na Educação fez a coisa mais relevante, pela qual todos os portugueses estavam à espera há anos: actuou como se fosse do CSI Miami e finalmente descobriu uns verdadeiros culpados para incriminar: os professores. Já há anos que vários ministros vinham apontando para este desfecho, mas sempre sem medidas enérgicas. Isso não é problema para esta equipa de ferozes criminologistas.

Há taxas alarmantes de abandono escolar? Vamos buscar todos os corrécios que andam a cuspir no chão da sala de aula e a insultar os professores, quando não a faltar às aulas pura e simplesmente ou a bater-lhes, e vamos pôr os energúmenos (os professores, claro!) a trabalhar nuns programas especiais para os coitadinhos (os alunos corrécios, claro), passarem de qualquer maneira. Isso é favorecê-los contra aqueles que se esforçam e estudam verdadeiramente? Isso é irrelevante.

E não haverá mais nenhum aluno que saia da escola sem o 9.º ano. Porque aumentam o seu nível de esforço? Não, que parvoíce é essa?! Porque têm de passar para melhorar as nossas estatísticas e pô-las ao nível do melhor na Europa e para a senhora ministra poder argumentar que fez o seu trabalho.

Os exames nacionais foram decretados irrelevantes, porque criavam uma discriminação entre os que têm boas notas e os maus! E toca de baixar o nível de dificuldade das perguntas dos testes de aferição, por exemplo, para aumentar o nível de facilidade em acabar a escolaridade.

Portanto fez-se uma política clara e sem concessões: baixa-se o nível da avaliação dos alunos, para aumentar o nível de estatística, e aumenta-se o nível da avaliação dos professores para eles se sentirem em liberdade condicional, como criminosos que são. E serão avaliados pelos energúmenos que também lhes batem e pelos paizinhos deles, que batem em todos, se for preciso, que é para perceberem quem manda.

Agora, reforço da disciplina na escola, sem a qual não se aprende? Autoridade dos professores sobre os alunos, e não o contrário? Programas dimensionados correctamente em tamanho e dificuldade? Aferição exigente, para aumentar efectivamente a qualidade do ensino e dotar os alunos de melhores ferramentas para a universidade ou vida activa? Isso é irrelevante!

Portanto, tomar finalmente medidas para combater a destruição de que o ensino público tem sido alvo? Ainda não. O nível do ensino oficial vai baixar ainda mais e produzir hordas de alunos ignorantes e sem hábitos de trabalho (a tão famosa «produtividade»), que vão ser chacinados no mundo do trabalho pelos alunos que vão sair das escolas privadas. E vão ser estes, mais uma vez, que vão mandar no país daqui a 40 anos. Onde é que está a democracia disto? Isso não é relevante.

Claro que este Governo também fez coisas boas. Mas é para isso que é pago, não é verdade? Ou isso também é irrelevante?

Obrigado Srª. Ministra

Eis ao que chegou a sua desresponsabilização dos alunos. Eis o resultado das suas políticas facilitistas que nos dizem que um aluno transita de ano a não ser que se prove o contrário e se preencham as milhares de folhas necessárias por cada elemento do conselho de turma. Eis ao que leva a sua tolerância excessiva e abusiva. Eis aquilo que está a formar. Será esta a mão-de-obra deste país daqui a uns anos. A sua desautorização pública aos docentes, o seu julgamento e catalogação de todos os professores na Praça Pública foi minando aos poucos até destruir, por completo, uma das nossas principais ferramentas de trabalho: O RESPEITO.

Fica o excerto do EXPRESSO:

Uma professora de francês da Escola Secundária Carolina Michaelis, no Porto, foi brutalizada, em plena aula, quando tentava tirar o telemóvel a uma aluna.Os restantes alunos assistiram e filmaram. O vídeo está no YouTube.

O episódio foi filmado pelos alunos e está no YouTube. Enquanto a professora tentava tirar o telemóvel à estudante, os restantes alunos assistiam e riam-se da situação.

Nos comentários ao vídeo no YouTube a atitude é criticada por outros alunos da escola.






Alteração nº 2 - o vídeo original foi removido. Uma cópia do mesmo encontra-se aqui:



E, já agora, a página do Youtube onde esse mui prestável aluno, que filmou o sucedido, rindo-se da situação, fez o favor, certamente por graça, de colocar o vídeo. Para que todos saibam. Para que todos se possam envergonhar do país e da educação que temos.

Continua o EXPRESSO:

Ministério abre inquérito

Contactada pelo Expresso a Direcção Regional de Educação do Norte (DREN) disse que só hoje teve conhecimento do caso, através de um e-mail enviado por uma cidadã. António Leite, director-adjunto da DREN,ordenou à escola a abertura de um inquérito. E adiantou que o Conselho Directivo da escola soube do caso através da DREN.

A presidente do Conselho Directivo não se mostrou disponível para prestar declarações ao Expresso.

O sindicato de professores do Norte não tem conhecimento do caso.



VERGONHA!



Alteração de última hora - O vídeo foi tornado inacessível por ligação externa, portanto só através da página do Youtube é que poderão visualizá-lo. http://www.youtube.com/watch?v=EhLTvLCP8xw

quarta-feira, 19 de março de 2008

O pimba e o cego

Não tem nada a ver com ser Professor, mas não posso deixar de passar em branco esta estória.

Paulo Portas ofereceu a Sócrates uma prenda envenenada. Deu-lhe um saco de amêndoas de Portalegre, aludindo o que se passou com a empresa onde estas eram produzidas. Empresa familiar, duas pessoas apenas, encerrada pela ASAE devido ao facto de não cumprir um qualquer número de directivas. Não se pense que eram directivas sanitárias ou problemas de higiene. Não, quanto a isso, aparentemente, tudo estava bem, mas diz-nos a "lei" que uma empresa daquele género tem que ter 2 casas de banho e 3 salas de trabalho... para duas pessoas. Da mesma família. Portanto, a ver se nos entendemos, temos uma microempresa a gerar riqueza e a garantir empregos e encerramo-la porque não tem mais quartos do que aqueles que precisa, efectivamente, para laborar. Presumo que um quarto a mais poderia dar para sala de fumo, ou sala de chuto.

Mas adiante. Paulo Portas fez isso. Sócrates respondeu apelidando ao acto um "número pimba". Assim mesmo, com todo este decoro.


Não me interpretem mal. Se há político com quem eu antipatizo, esse é o Paulo Portas. Mas o homem tocou numa feridazita do nosso PM e foi rotulado de pimba.

Portanto, oh sr. Primeiro Ministro, quem chama a sua atenção para os problemas do país REAL é Pimba. E quem insiste em aplicar determinadas leis sem qualquer critério de bom-senso (ou senso comum, vá), não será cego? E, se essa cegueira for por não se querer ver, não será isso idiotice pura?

Há aqui um qualquer paralelismo com a Educação que está escrito nas entrelinhas...

O nosso país visto de fora...

Cito aqui uma carta aberta de uma professora portuguesa a leccionar no estrangeiro. Dizem-nos que a terra só soube o que era na verdade quando o vento a jogou no ar. A distância ajuda-nos a ver. A avaliar as coisas de uma outra perspectiva impossível de atingir quando se está submerso nelas.

Fica o texto, para leitura e reflexão:


Sendo professora com 32 anos de carreira,tenho seguido e sofrido dia a dia não só com as imposições, e divagações do Ministério, mas também com a perseguição de que os docentes têm sido alvo.

Talvez o facto de leccionar Língua e Cultura Portuguesa no Estrangeiro me tenha dado uma visão de sistemas de educação que me permite fazer comparações que não estariam tão ao meu alcance se leccionasse só em Portugal

Neste ponto só tenho a dizer que o modo como o Ministério da Educação e muitos Encarregados de Educação actualmente tratam os professores seria inconcebível e inaceitável em qualquer país civilizado.

Mas o que mais me espanta, e quase me daria vontade de rir, se o assunto não fosse tão sério, é o elevado número de indivíduos, oriundos de várias camadas sociais e profissionais, que até hoje nenhum interesse mostraram pela Escola, mas que de um dia para o outro se tornaram peritos em Educação e sabem tudo, mesmo tudo!

São absolutamente espantosos as comentários feitos, publicamente, à Manifestação de Professores no passado dia 8 de Março.

O Jornalista Emídio Rangel dá-lhes o nome de "hooligans", uma "senhora" (aspas intencionais) que pôs um artigo na Internet ( Portugal Notícias,.13.03) apelida a marcha de professores de "marcha de chulos". Outro jornalista do Correio da Manhã diz que os professores "andaram aos saltinhos pelas ruas".

Um senhor reformado ( PWB Netcabo 12.03) queixa-se que começou a trabalhar aos 14 anos, mudou 10 vezes de emprego, tem uma pequena reforma e que os malandros dos professores ficam com boas reformas sem fazer nada, ou quase nada!

E todos concordam em, pelo menos, quatro pontos : os professores são uns madraços, preguiçavam à conta do Estado, pelam-se de medo da avaliação e viva a Sra. Ministra que vai meter isto tudo na ordem !

Os professores são o bode expiatório da nação. Dilapidaram os cofres do Estado e não ensinaram nada aos coitados dos alunos.

Avaliem-nos! Avaliem-nos ! - grita a multidão - os professores andaram anos e anos armados em espertos, a passar e a chumbar alunos à sua livre vontade, agora somos nós que os passamos ou chumbamos, nós, os pais e os alunos, e só passamos quem quisermos!

Ora, meus caros - e menos caros - amigos, há aqui vários equívocos graves.

Para começar, todos os professores são profissionais com uma formação estruturada, aplicada e aprovada pelo Ministério da Educação.

Os professores e os médicos são as duas categorias profissionais em que são perfeitamente visíveis os resultados do seu trabalho e em que a avaliação é feita dia a dia, no local de trabalho, através dos resultados que atingem.

Se o médico não consegue descobrir o tratamento adequado ou comete um erro, o doente morre.

Se o professor não ensina, logicamente, o aluno não aprende.

Mas agora surge o ponto crucial da questão:

Se o doente não tomar os medicamentos e não seguir os conselhos médicos, no caso de morrer,a culpa é do médico?

Ou se o médico não tiver os medicamentos para ministrar e os instrumentos para a operação, se o doente morrer, a culpa é dele?

É lógico que não é. Mas nesse caso, poque andam a culpar os professores dos maus resultados dos alunos, se lhes retiraram todos - ou quase todos os"medicamentos " e "instrumentos" de que dispunham para exercer a sua profissão?

Refiro-me aqui ao respeito, à autoridade dentro da sala de aula, à possibilidade de fazer com que os alunos estivessem quietos, calados , prestassem atenção à aula, não faltassem e tentassem, pelo menos, atingir a nota mínima para passar de ano.

Actualmente, nada disto é possível. Se o professor tenta tirar o telemóvel ao aluno, porque está a enviar mensagens em vez de seguir a aula, recebe ameaças - e não só - de agressão física da parte do aluno e dos pais do mesmo.

Quando um Director de Turma telefona para os pais de um aluno, porque já há vários dias este não aparece nas aulas, é insultado e os pais dizem-lhe que não tem nada a ver com isso.

Mas não há nenhum problema,porque actualmente e devido às sábias medidas da Sra. Ministra, quase não é preciso os alunos irem às aulas para fazerem o 9° ano! Podem faltar quanto quiserem e não precisam de ter nota suficiente, mas, se mesmo assim não conseguirem, têm as "Novas Oportunidades", em que conseguem terminar a escolaridade mesmo sendo semi-analfabetos.

Mas ai do docente que cometa um erro! A "senhora" que mencionei acima falava , indignadíssima de uma professora que Tinha Cometido Um Erro No Enunciado DE UM TESTE ! Do modo em que apresentava a questão, parecia que daí poderia resultar o fim do mundo, ou, pelo menos, a terceira Guerra Mundial.

Mas continuando, de quem é a culpa? De um Ministério que abandalha ( peço perdão da palavra, mas é a mais correcta) ao máximo as condições do ensino, que retira aos professores todas as possibilidades de ministrar um ensino em condições, que permite presentear com certificados do 9° ano todo o arruaceiro, faltista e preguiçoso que nunca quis fazer nada na escola, só para camuflar os erros ministeriais que cometeu?

A quem admira que, nestas condições, o "doente ensino" morra, ou fique pelo menos incapacitado?

Avaliação! Avaliação!Avaliação! -grita a multidão. Vamos avaliar os incompetentes dos professores!

E a Sra. Ministra rejubila. Sim, porque enquanto estiverem ocupados com um processo de avaliação tão incorrecto,tão moroso, complicado desnecessariamente ao mais alto grau, os professores não vão sequer ter tempo para comer ou dormir, quanto mais para ensinar, criticar o sistema de ensino ou organizar manifestações.

Mas todos estes peritos do ensino de chocadeira podem estar descansados!

Daqui a alguns ( poucos) anos, quando tiverem medo de sair de casa porque correm o risco de ser assaltados na próxima esquina - quem não ganha dinheiro e não sabe onde o ir buscar, vai roubar- quando forem pessimamente atendidos nos Correios, no Banco ou numa loja, quando estiverem três meses à espera de telefone porque o seu nome vem sempre soletrado errado,quando se sentirem preocupados com graves problemas de desemprego, criminalidade, tráfico de droga ou prostituição, lembrem-se de que ajudaram, um pouco, a criar uma geração sem valores estabelecidos, sem conhecimentos básicos, sem regras de comportamento, sem hábitos de trabalho, porque que lhes foi permitido andar na escola sem fazer nada e pensar que não é preciso fazer nada para ter tudo, sem reflectirem no choque que esses jovens vão sofrer quando chegarem à vida real e ao mercado de trabalho e ver que as coisas não são nada como lhes fizeram crer.

Os que batem nos professores hoje vão ser ou os criminosos ou os explorados pelas empresas amanhã.

Pensem nisto, meus caros - e menos caros - amigos. Pense nisto também, Sra. Ministra !

Pensem que a escola deveria ser uma preparação para a vida. Já o foi, e sei isso, porque trabalhei nesses moldes.

Agora não é uma preparação para nada, a não ser um futuro muito incerto.

Os erros que se cometem com uma geração reflectem-se nas gerações seguintes.

Pensem nisso.

Nuremberga, Alemanha, 15.03.08

Maria Teresa Duarte Soares - Professora

terça-feira, 18 de março de 2008

Não, não são só os professores...

Os alunos também querem uma educação MELHOR e mais justa...

quinta-feira, 13 de março de 2008

quarta-feira, 12 de março de 2008

Importa-se de repetir?!

"Maria de Lurdes Rodrigues disse hoje que o processo de avaliação dos professores não vai ser adiado nem suspenso, mas abriu a possibilidade das escolas poderem simplificar os procedimentos previstos no diploma, abdicando por exemplo da observação de aulas."

in Público

Então, se não me vão avaliar a dar aulas, vão-me avaliar com o quê?! Pelos papeizinhos que eu preencho? Com as cruzinhas que eu marco nos papeizinhos? Pelas notas que eu dou aos meus alunos? É a isso que a ministra reduz ser-se professor?!

Arre! Sou professor. Sou um bom professor. Sou bom a dar aulas. Confesso que tenho pouca pachorra para as burocracias não-SIMPLEX do ensino, com folhinhas em triplicado sempre que um aluno solta um gás ou um professor espirra. Até agora sempre pensei que era isso que importava. Aliás, é por isso que o outro Ministério até me paga - e bem melhor! - mas afinal pelos vistos este ano, como temos pressa para fazer as coisas, deixa-se essa coisa trabalhosa que é avaliar um professor PELO QUE ELE É e passamos a avaliá-lo só PELO QUE ELE APARENTA SER.

Maravilha, oh Milu!

Como é lá fora...


Fica um excerto de um jornal que considero apaixonante. Isto, principalmente depois de eu ter contado aqui algumas das diferenças entre os contextos ensino público e formação profissional, é quase assustador.

Há que não confundir disciplina com ditadura. Há que formar tendo em vista os futuros empregos, onde a disciplina é exigida e não requer toquezinho de campaínha e onde os papás não têm (salvo as famosíssimas cunhas) grande impacto nas decisões de quem manda nos seus rebentos.

terça-feira, 11 de março de 2008

O idiota!

Mais uma vez, a idiotice, a ignorância e a estupidez marcam pontos. Vejam aqui de que maneira!

Do senhor pouco se pode dizer, além do óbvio desatino de quem publicita o seu blog como "o 8º melhor blog nacional" e depois publica alarvidades daquelas. Mas dá pena da criança, com um pai daqueles. Daqueles que, obviamente, não educa em casa as suas crianças, para depois exigir que os professores o façam.

Tal pai, tal filho, diz-nos o ditado.

E "somos o que comemos", diz-nos outro... pois bem, a acreditar neste último, o senhor deve ser coprófago. Posso não o julgar pelo que veste ou pelos óculos que usa, como ele faz, levianamente, mas posso, perfeitamente, julgá-lo pelo que diz e escreve.

segunda-feira, 10 de março de 2008

O Simplex...

A figura aqui ao lado, extraída do Expresso, exemplifica de forma visível o impacto do modelo SIMPLEX na educação. Ou, vá, a ausência deste.

Cliquem e vejam por vocês mesmos!

Queria um Ministério novo, se faz favor!

Dá para trocar? Presumo que ainda esteja na garantia!

Trabalho sob a alçada de dois Ministérios. O da educação e o do Emprego e da Formação profissional.

Um toma-me como um activo de valor. O outro toma-me como parte de um encargo tremendo. Só dou despesas.

Um paga-me bem. O outro paga-me mal (por vezes a rondar 1/4 do vencimento que o outro me dá!).

Um trata-me bem, incentiva-me, valoriza o meu trabalho, propõe-me novos trabalhos, inclusivamente para bem longe da minha área de residência, por vezes cobrindo as despesas da mesma. O outro menospreza-me. Trata-me por "professorzeco", rotula-me de preguiçoso, mau profissional, distribui posições entre mim e os meus colegas por todo o país, sem ter em conta as proximidades geográficas, subestima-me, pressiona-me e retira-me toda e qualquer autonomia.

Um fornece-me todos os meios que necessito para desenvolver o meu trabalho. Tenho sala, projector, mesas, cadeiras, canetas, portátil... Se algo faltar, ligo num dia, resolvem o problema no dia seguinte. O outro diz-me para eu me amanhar com o que tenho. Sou eu que compro as minhas canetas, o meu portátil para trabalhar em casa e no trabalho, dá-me material insuficiente para o número de alunos de que disponho, material defeituoso e inadequado.

Um tem critérios e conteúdos bem pensados, estruturados e fundamentados. O outro escreve que devo leccionar temas como AS400, Linux ou Macintosh e não se dá sequer ao trabalho de providenciar o material ou a correcção dos manuais fornecidos (VENDIDOS!) aos alunos.

Um vê o público alvo do meu trabalho como a futura ou actual mão de obra de um país. Exige-lhe trabalho, mas dá-lhe todas as condições para que tenha sucesso no mesmo. O outro vê o público alvo do meu trabalho como putos idiotas e sem perspectivas. Atiram-nos para a minha sala e eu que faça deles o que bem entender ou conseguir. Se falhar, a culpa será, obviamente, minha.

Um responsabiliza os formandos ou os seus responsáveis (patrões ou encarregados de educação) e obriga-os a prestar contas ao mínimo sinal de incumprimento. O outro desresponsabiliza os alunos, os encarregados de educação destes e as respectivas famílias. Deposita tudo sobre os meus ombros. Se falho, sou mau. Se os alunos têm sucesso, é porque são bons.



A lista poderia continuar, mas penso que dá para perceber o meu pedido. Sou adulto. Consigo perspectivar que os miúdos que estão hoje nas escolas serão os meus médicos, advogados, empreiteiros, polícias de amanhã. Custa-me cultivar nestes as sementes do facilitismo e da mediocridade. Custa-me ver o MEU DINHEIRO (sim, porque eu também sou contribuinte!) tão mal empregue nos futuros destes jovens e custa-me ver o acréscimo de custos que tem corrigir estes erros mais tarde, por outro Ministério. Custa-me ver que se dá tão pouco pelos que estão em idade de aprender para depois se ser obrigado a investir na formação daqueles que já deveriam ter um emprego. Essa correcção de mentalidades, de posturas, de visão e de perspectiva sai-nos caro, do nosso bolso. E sai-me a mim, do corpo.

Um obrigado ao Ministério do Emprego e da Formação Profissional. Recrutou-me, valorizou o meu trabalho, pagou-me pelo meu desempenho, interessou-se pela minha formação, pretendendo mais de mim e oferecendo mais em troca. Deu-me todas as condições para realizar o meu trabalho e exige de mim um trabalho impecável, que me esforço por cumprir. Quando cumpro, tenho garantias de que em breve serei contactado para mais trabalho.

O ministério da educação foi praticamente obrigado a ter-me a seu cargo. Desvaloriza o meu trabalho, seguindo a máxima de que "paga o justo pelo pecador". Paga-me mal. Espera que eu me mantenha actualizado, mas não me paga a formação, não me cede tempo para estudo e para evolução, nem teria moral para o fazer, tamanho o desenquadramento a que eu vejo votado o tema "informática". Sem acréscimo de formação e de um ano para o outro, espera-se que eu tenha o mesmo desempenho a leccionar Office (da Microsoft, obviamente, porque o OpenOffice ou outros projectos Opensource não nos servem, porque são GRATUITOS), hardware, bases de dados, internet, programação em basic, java, C++, php, html, multimédia, etc. Já o tenho dito várias vezes. Que competência teria um treinador de futebol se pusesse um ponta de lança a jogar a defesa esquerdo? Um guarda-redes a jogar a extremo direito? Pois, para este ministério, os professores são todos iguais e podem ser todos avaliados pelo mesmo. Para este ministério, os professores de informática são todos iguais também. Tanto dão C++ como dão Word e PowerPoint, tanto dão Access como dão programação em Visual Basic...


Como é possível esta diferença de tratamento? Tanto em relação ao docente/formador como ao formando/aluno. Porque podem os alunos das escolas públicas ficar com o refugo e os formandos dos centros de formação, com a mesma idade ou mais velhos, ter direito a outras regalias e atenções? Porque é que os alunos são vistos como um encargo quando estão na idade de aprender e só depois, quando é, muitas vezes, tarde demais, é que são vistos como potenciais activos? Porquê o desfasamento entre a educação e o emprego? Não estão eles interligados? O emprego não depende da educação?


Extinga-se o ministério da educação! A fazer o que fazem e da maneira que fazem, só provocam maiores encargos ao país a longo prazo - a reeducar aqueles a quem bastaria educar.
Coloquem todos os docentes sob a alçada do ministério do emprego e da formação profissional. Eles, certamente, agradecerão. Eu também, principalmente enquanto contribuinte.

domingo, 9 de março de 2008

Uma outra maneira (fascista, vá) de ver as coisas


(Cliquem para ver a pérola jornalística)

Ora cá temos a opinião deste senhor, obviamente bem informado. Tão bem informado que provavelmente terá escrito o que escreveu do alto do seu trono sanitário. O texto produzido é de qualidade condizente.

De repente, somos todos comunas. Curioso, não me sabia comunista. Bem, eu sabia-me um daqueles indecisos... De família tradicionalmente socialista, segui as pisadas deles na era Guterres, mudei quando votei no homem, em vez do partido, para a Câmara de Gaia... e votei Menezes. Duas vezes. Nestas legislativas, perspectivando-se a vitória do PS, votei BE... votei numa oposição, não num governo. Sou comunista, portanto. A mim, Mao, a mim, Castro!

O jornal em que este sujeito escreve não é exemplo para ninguém. É um pasquinzito pejado de pseudojornalistas que inventam notícias. Volta e meia até calha alguma ser verdadeira, mas na sua maioria, são apenas mentiras sensacionalistas e sem qualquer tipo de rigor jornalístico ou qualidade que valha 1 cêntimo. Depois há alguns pseudocronistas que regorgitam verborreias que apanham ao alto por entre versos de casas de banho públicas - como este.

Se calhar as coisas até não são assim como eu escrevi. Se calhar o jornal até é muito bom. Se calhar tem bons jornalistas. Mas permito-me a mim a leviandade, a ignorância e o insulto fácil e infundado que, pelos vistos, permitem a esse senhor.

Poderia perder aqui tempo a rebater, ponto por ponto, cada uma das suas frases. Mas seria dar pérolas a porcos. E aqui, talvez a metáfora não recaia em ambos os sujeitos da frase.


Ficam os meus cumprimentos, então ao senhor Emídio Rangel. Ainda há quem diga que o bom humorismo, nos dias que correm, é só o dos Gato Fedorento...

sábado, 8 de março de 2008

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Prós e Contras

Aqui me encontro, na minha sala, a assistir ao Prós e Contras, que coloca de um lado a nossa querida ministra e do outro, os docentes em geral.

Aqui, urge dizê-lo, faço-o utilizando o meu portátil, escolhido, comprado e pago por mim e que utilizo também, obrigatoriamente, como instrumento (fundamental) para o meu trabalho - ou não fosse eu professor de Informática. E menciono isto porque não, não comprei um computador ao abrigo das eOportunidades, com os tais portáteis que custam 150€ inicialmente mas que, para professores, envolvem a manutenção de uma assinatura mensal durante três anos, que faz ascender o custo total do equipamento acima dos 700€... Ora por esse preço, muito obrigado, mas vejo eu a ementa e escolho o que quero com aquilo que preciso.

Mas adiante.

Gosto desta ministra. Simpatizo com ela, pronto. Como gosto dos meus miúdos com Necessidades Educativas Especiais. Sei que vivem num outro mundo, mas vivem com o sorriso inocente estampado nos lábios. Ignorance is bliss, diz-se. É um óptimo exercício de humor ver uma senhora que se percebe que nunca deu uma hora de aulas numa escola pública (daquelas com vidros partidos, falta de giz, falta de papel, falta de aquecimento, falta de lugares e de condições de trabalho para os docentes) dizer com aquela boca toda que ela é que sabe o que é melhor para os professores.


Aulas de Substituição - Diz-nos a ministra que as aulas de substituição entraram num lume brando. Já não há atritos. Alguém diga à senhora que o facto de a gente não continuar a chorar baba e ranho prende-se com a maturidade típica dos adultos. Não há satisfação. Nem nossa nem - pasme-se - dos alunos. Aliás, aqui entre nós, cara ministra, nunca dei uma aula de substituição propriamente dita. Fui escalado para algumas, é certo. Fui a duas. Entretive-me a conversar com alunos de turmas que eu não conhecia e a ouvi-los lamentarem o facto de estarem presos ali numa sala em vez de aproveitarem o sol que brilhava lá fora. Na segunda fui mesmo lá para fora com eles. Grande "aula". Tornei-me um educador. Um acompanhante de alunos nos seus tempos sem aulas. Brilhante. Haja polivalência.


Denegrir a imagem dos professores - Diz-nos a ministra que não denegriu a imagem dos professores. Pobrezita. Santa inocência. Não vê o mal, a senhora. Tudo é puro, tudo é belo. Nada do que se diga na televisão é ambíguo. Nada pode ter várias interpretações. Nem precisamos de advogados para nada, veja lá, tanta é a transparência das nossas leis e daquilo que os nossos sucessivos governos nos dizem. A ferocidade quase animalesca com que se atirou à avaliação dos professores deixa perceber muito bem qual é a sua visão, cara ministra. Mais, a palavra "professorzecos", com que brindou alguns docentes com dúvidas que a interpelavam não será propriamente um elogio, certo, cara ministrazeca? (calma, não se exalte. chama-se humor)


Avaliação - Gosto da ideia da avaliação por pares. Aliás, adoro. Mas então, se os meus "pares" vão ser os professores titulares... Quem nos garante que um professor titular seja mais capaz do que eu? A antiguidade confere-lhe o cargo. Conferir-lhe-á também a sapiência, a sabedoria, a capacidade de trabalho e julgamento? Terei eu a minha avaliação nas mãos de um professor acomodado que, ele sim, precisaria de ser saneado? Quem policia os polícias, minha cara? Quem avalia, escolhe e forma os tais avaliadores? Quem os controla? Quem os avalia a eles? E quanto à hipótese da avaliação ser feita por professores universitários, permito-me deixar escapar uma risadinha trocista. Oh minha senhora (aqui inspiro profundamente contando interiormente até dez, como faço quando tento explicar algo óbvio a um aluno que esteve desatento), são duas realidades distintas, ok? O universo universitário é assim um poucochinho diferente do universo do 2º ciclo, do 3º ciclo e do secundário, está bem? É que na universidade não há o facilitismo que há nas escolas. Na universidade chumba-se sem que o docente tenha que justificar isso com 34 páginas escritas em triplicado. Na universidade temos alunos adultos, com outra maturidade, que podem ser responsabilizados pelas suas acções. Na universidade temos outro tipo de condições, outro tipo de matéria, outro tempo que não escassos 45 ou 90 minutos por semana. Fiz a minha profissionalização recentemente. Ainda no ano passado, vá (sim, tenho duas licenciaturas para poder dar aulas...). Gostei muito dos meus professores, mas reconheço-lhes (e eles também o assumem) muita teoria. São teóricos. Isto deve ser feito assim, assim, assim e assado. É certo. No papel. Mas no dia a dia não temos tempo para por tudo no papelinho e para seguirmos passo a passo. No dia a dia, com 26 alunos numa sala com 10 computadores, temos que FAZER. ALI. E só se sabe o que é isso quando passamos por essa experiência, minha cara.

A união - agradeço-lhe isto, cara ministra. Conseguiu unir a classe dos professores. Conseguiu unir alunos e professores. Conseguiu unir socialistas, bloquistas, comunistas, sociais democratas e populares. Qual messias caminhando sobre as águas, a ministra conseguiu, pelo menos isso.

O facilitismo - O seu ar incrédulo ao ouvir falar do facilitismo no ensino é meritório de um Oscar. Pena a cerimónia já ter acontecido. Minha cara senhora. A avaliação dos professores depende linearmente da avaliação que estes fazem aos seus alunos. Mais, nos dias que correm, é facílimo dar um 3 ou um 4. Mas para se dar um 2, há que o justificar. Ou, resumindo isto como alguns colegas meus resumem: "ninguém chora por passar". Hoje em dia qualquer aluno transita de ano até prova em contrário. E provar o contrário não é fácil para ninguém a não ser para o aluno. Ele é reuniões, ele é aulas de apoio, ele é ligar aos pais, ele é adaptações curriculares, ele é um sem-número de medidas que visa rotular o aluno de idiota ou de incapaz em vez de lhe exigir mais e melhor em função das capacidades que possui. Por outras palavras, a escola refugia-se mais vezes na aplicação de rótulos de necessidades educativas especiais do que responsabiliza o aluno e os seus encarregados de educação pelo seu trajecto escolar. E se o aluno passa, é porque fez um bom trabalho. Se o aluno chumba, é porque o professor fez um mau trabalho e não soube criar condições para que o aluno passasse - acho que isto é facilitismo!

E fico-me por aqui, porque o nosso "serviço público" coloca estes debates a umas horas algo impróprias para quem, no dia seguinte, tem de enfrentar 26 pares de olhos ensonados às 8h30 da manhã.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Que sabe um professor?

Diz-nos a página do Ministério da Defesa Nacional (e eu acredito, pois claro), que Portugal vai adquirir 37 carros de combate Leopard 2A6 para o exército português.

Não são carros de combate a incêndios. Não consta que possam servir para ambulância. Não me parece que venham equipados com livros. São carros para a guerra. Diz que matam gente.

Ora, antes de mais, permita-me o Ministério da Defesa Nacional dar uma dica rápida: comprem um qualquer utilitário e circulem nas nossas estradas nacionais. Garanto que ficam a ver que também dão para matar gente, com a grande vantagem de sair muito mais barato para o erário público.

É que (e isto não é a página do Ministério da Defesa Nacional que nos diz) consta que os tais carros de combate custarão ao Estado alguma coisa acima dos 50 milhões de euros. Ora eu sou um mero professor, um simples cidadão, mas, daqui donde eu estou, custa-me a percepcionar a real necessidade que possamos ter de carros de combate. Principalmente numa altura em que se fala (e me obrigam a mim!) em apertar o cinto e onde os curtes orçamentais na educação e na saúde se sucedem. Não há dinheiro para que quem paga os seus impostos direitinhos tenha direito a um atendimento médico rápido, capaz e barato. Mas dá sempre para comprarmos mais uns carros de guerra. Não há dinheiro para se construir pontes e estradas que depois não exijam a quem as transita pagar (mais uma) portagem. Mas, lá está, temos dinheiro para comprar tanques para o nosso exército. Não há dinheiro para pagar formação aos professores, para equipar convenientemente as escolas com artigos luxuosos como aquecedores, ares condicionados ou novos vidros para substituir os partidos, mas há certamente dinheiro para investir em carros blindados.

Talvez estejamos em guerra. Talvez pretendamos invadir Espanha ou coisa que o valha. Talvez apenas falte, aos senhores do Governo, a capacidade para discernir as prioridades de um país que se encontra tudo menos bem.

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Avaliação dos docentes, parte I

Não me levem a mal, sou completamente a favor da avaliação dos professores. Aliás, sou a favor da avaliação de desempenho de todos! Trabalhei e trabalho ainda por conta de empresas privadas e lá, ou fazemos um bom trabalho ou eles arranjam outro que o faça. Mantém-se a fasquia elevada, os funcionários motivados para fazerem um bom trabalho (embora haja a motivação positiva, que envolve uma promoção e consequente melhor remuneração, e uma negativa, que envolve, em último caso, o despedimento) e assegura-se um funcionamento eficaz e eficiente da empresa, seja ela qual for e em que ramo se mova.

Não é só a carreira de docente que precisa de um sistema semelhante. No fundo, todos os sectores públicos mereceriam semelhante postura, do pen-pusher em princípio de carreira ao gestor de cadeira almofadada atrás de secretária em mogno. Já lidei com o sector público, numa altura em que eu trabalhava por conta de outrem e é, de facto, frustrante ver a displicência com que muitos funcionários públicos atendem clientes e digerem, sofrivelmente, o seu dia. Placidamente lendo jornais, revistas cor de rosa ou regando as plantinhas do escritório, pareciam apenas vagamente intrigados com a minha azáfama enquanto tratava de lhes resolver os problemas da competência da empresa para quem trabalhava. Não pretendo, atenção, meter tudo no mesmo saco e dizer que todos os funcionários públicos são assim, ou que todas as empresas públicas funcionam assim, mas, de facto, marcou-me. E a imagem é tudo. Qualquer empresa privada vos dirá o mesmo ou assinará por baixo.

Mas é complicado fazer a avaliação a tanto funcionário público, compreendo. E, mais complicado ainda seria, retirando-se o devido proveito dos investimentos na burótica, ir dispensando funcionários públicos que não rendam o que deveriam render, cometendo o sacrilégio de, a exemplo de 90% das empresas privadas, reduzir custos. Compreendo que, para o erário público numa visão geral, o custo de manter empregada uma pessoa pouco foge do custo de lhe pagar a reforma ou o subsídio de desemprego... E, para a imagem do país (inserir riso histérico aqui), seria mau esse aumento da taxa de desemprego. Seria um investimento a médio-longo prazo, vá. Pouco apreciado pela maioria, bem sei... e principalmente tendo em conta que governo atrás de governo insiste em nomear assessor atrás de assessor (com o apelido estranhamente parecido ao de alguém ligado ao governo, em muitos casos) para ganhar balúrdios e para fazer coisas que, acredito, sejam importantíssimas.

Mas vamos voltar aos professores. Vamos avaliá-los a eles que eles é que são a raiz do mal deste país. Não vale a pena avaliar ex-ministros que assinam contratos com a duração de décadas com empresas que, escassos anos depois, eles próprios presidem. Ou os sucessivos ministérios de educação que fazem, desfazem, refazem e voltam a desfazer sem a mínima preocupação em manter uma coesão, em manter uma linha geral para todo o ensino e profissionais que nele trabalham.

Quero ser avaliado. Sobretudo para que professores que mal merecem esse cargo sejam responsabilizados pelos seus falhanços, pela sua incompetência, pela sua displicência ao lidar com a VIDA dos alunos (porque muitos mal percebem o impacto que o seu trabalho tem na vida dos miúdos). Avaliem! E tenham, pelo menos com estes funcionários públicos, a coragem de agir devidamente. Se alguém faz um mau trabalho não deve ser apenas impedido de progredir na carreira. (Acho que com este parágrafo muitos colegas meus me detestarão) Criem pelo menos a oportunidade para que novos docentes possam mostrar o seu trabalho. Muitos saem da universidade, inexperientes, é certo, mas com mais vontade de mostrar serviço do que muitos dos acomodados que se arrastam pelos corredores das escolas, lamentando o facto de ir ter que "aturar" os miúdos.

Tenham lá paciência, mas não temos que aturar ninguém. Somos pagos para fazer um serviço: dar aulas. Note-se que disse dar aulas em vez de ensinar. Ensinar implica que alguém aprenda. Aprender implica que haja motivação e um trabalho activo por parte de quem deseja aprender. Cabe-nos motivar e cultivar essa vontade, mas não é uma condição sujeita a avaliação consciente. Se há quem não queira aprender, pois que não aprenda. Eu posso tentar que aprendam, mas não posso (nem os papás me deixariam) exigir que o façam. E há tantos morangos com açúcar, operações triunfos, jogos de futebol, filmes e consolas a precisar de atenção que, compreende-se muitos jovens não tenham sequer tempo para se dedicar a aprender. O que lhes vale é que o nosso governo compreende isso e vai-lhes facilitando as coisas. Se o menino não sabe:

a) o professor é mau;
b) a matéria é muito difícil.

As soluções passam, geralmente por:

a) penalizar o professor;
b) simplificar a matéria.

O que não deixa de ser engraçado. Na Era da Informação, seria e esperar que o português médio cada vez soubesse mais, fosse mais capaz... E o que temos assistido é o contrário (que o digam os nossos engenheiros de estradas tortas, os nossos médicos com processos por negligência, os nossos arquitectos de casas com rachadelas ao fim de 2 anos, os nossos políti.... ui! isto não!).

O que interessa é o sucesso!! O que interessa é ter 80% dos alunos a concluir o 9º ano (mesmo que a maioria não saiba escrever uma palavra com mais de quatro sílabas sem dar um erro), o que interessa é reduzir a taxa de desemprego (nem que isso implique cursos profissionais em que prossiga o facilitismo das escolas públicas ou ter professores em part-time, com menos horas de trabalho - e consequente ordenado - inferior a muitos verdadeiros desempregados). E, como se gasta muito dinheiro com os professores (part-time ou full-time - para juntar dois estrangeirismos no mesmo parêntesis) vamos também tratar de fazer com que eles não subam tão rápida e facilmente na carreira.

Vamos até juntar o inútil ao desagradável. Já que se pretende que todos os alunos passem - até prova em contrário... e que difícil é, nos dias que correm, provar o contrário - independentemente das suas aptidões e conhecimentos, vamos dar um empurrãozinho para que os professores os passem: vamos por os papás dos meninos a avaliar os professores. Esses mesmo! Os papás dos meninos! Esses que nem conhecem os professores, a escola, que se dirigem à escola 1 vez por ano, quando o seu filho foi o (injustiçado) alvo de um processo disciplinar, ouvintes atentos das queixinhas dos seus rebentos que, coitadinhos, tiraram um zero no teste porque o professor não ensina e depois não deixa copiar e que ainda por cima embirra com eles, coitadinhos, que até têm o caderno em dia só que, por acaso, alguém o roubou e queimou por pura maldade. Os mesmos papás que são, muitos deles, analfabetos funcionais e que são os primeiros a atacar a escola e os professores em vez de tirar partido de um serviço que eles, afinal, também pagam e exigir e zelar para que os seus filhos tenham uma educação melhor. São esses senhores que nos vão dar as notas.

Aguardo (quase) ansiosamente o dia em que eu me converta ao funcionalismo público exemplar. Comprarei uma caneca que colocarei na minha secretária. Comprarei religiosamente as revistas cor de rosa. Trarei para a escola algumas plantas. No curto período em que os alunos querem e pretendem estar atentos, regorgitarei, de cor, alguma pseudo-informação e voltarei a minha atenção para a leitura empenhada das vidas e amores do nosso jet7, para a delicada atenção que me merecem as plantinhas e para a canequita com o café quente, para aquecer o espírito. Depois, bastará passar todos os alunos, piscar o olho aos que nada fizeram e sabem que passarão para cair nas boas graças dos seus papás. Tudo ficará bem. Perpetuar-se-á o ciclo das cunhas em Portugal, só que, desta vez, nem sequer é para um cargo de assessor.