sábado, 12 de julho de 2008

Novos tempos

De um momento para o outro, o país viu-se inundado de pequenos génios matemáticos. Mas não eram os exames que eram fáceis. Não. De repente, todas as deficiências que existiam nesta disciplina foram quase que completamente varridas do mapa.

Por esse motivo venho aqui pedir um enorme aplauso à nossa excelente Ministra da Educação, pois sem ela nada disto teria acontecido. Que se mantenha em funções muitos e bons anos ! Tenho a certeza que vão aparecer muitos Terence Tao's.



Como este é o meu primeiro post num blog, deixo aqui o aviso: as linhas que escrevi acima foram escritas num estilo irónico.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

sábado, 5 de abril de 2008

A balbúrdia na escola

Os direitos dos alunos, consagrados no respectivo estatuto, são os mais abrangentes e absurdos que se possa imaginar

As cenas de pancadaria na escola têm comovido a opinião. A última ocorreu numa escola do Porto e foi devidamente filmada por um colega. Em poucas horas, o clip correu mundo através do YouTube. A partir daí, choveram as análises e os comentários. Toda a gente procura responsáveis, culpados e causas. Os arguidos são tantos quanto se possa imaginar: os jovens, os professores, os pais, o ministério e os políticos. E a sociedade em geral, evidentemente. As causas são também as mais diversas: a democracia, os costumes contemporâneos, a cultura jovem, o dinheiro, a televisão, a publicidade, a Internet, a permissividade, a falta de valores, os "bairros", o rap, os imigrantes, a droga e o sexo. Para a oposição, a culpa é do Governo. Para o Governo, a culpa é do Governo anterior. O trivial


Deve haver um pouco disso tudo, o que torna as coisas mais complicadas - sobretudo quando se pretende tomar medidas ou conter a vaga crescente de violência e balbúrdia. Se as causas são múltiplas, por onde começar? Mais repressão? Mais diálogo? Mais disciplina? Mais co-gestão? Há aqui matéria para a criação de várias comissões, a elaboração de um livro branco, a aprovação de novas leis e a realização de inúmeros estudos. Até às eleições, haverá debates parlamentares sobre o tema. Não tenho a certeza, nem sequer a esperança, que o problema se resolva a breve prazo.

De qualquer maneira, a ocasião era calhada para voltar a ver a obra-prima do esforço legislativo nacional, o famoso "estatuto do aluno". A sua última versão entrou em vigor em finais de Janeiro, sendo uma correcção de outro diploma, da mesma natureza, de 2002. Trata-se de uma espécie de carta constitucional de direitos e deveres, a que não falta um regulamento disciplinar. Não se pode dizer que fecha a abóbada do edifício legal educativo, porque simplesmente tal edifício não existe. É mais um produto da enxurrada permanente de leis, normas e regras que se abate sobre as escolas e a sociedade. É um dos mais monstruosos documentos jamais produzidos pela administração pública portuguesa. Mal escrito, por vezes incompreensível, repete-se na afirmação de virtudes. Faz afirmações absolutamente disparatadas, como, por exemplo, quando considera que "a assiduidade (...) implica uma atitude de empenho intelectual e comportamental adequada..."! Cria deveres inéditos aos alunos, tais como o de se "empenhar na sua formação integral"; o de "guardar lealdade para com todos os membros da comunidade educativa"; ou o de "contribuir para a harmonia da convivência escolar". E também os obriga a conhecer e cumprir este "estatuto do aluno", naquele que deve ser o pior castigo de todos! Quanto aos direitos dos alunos, são os mais abrangentes e absurdos que se possa imaginar, incluindo os de participar na elaboração de regulamentos e na gestão e administração da escola, assim como de serem informados sobre os critérios da avaliação, os objectivos dos programas, dos cursos e das disciplinas, o modo de organização do plano de estudos, a matrícula, o abono de família e tudo o que seja possível inventar, incluindo as normas de segurança dos equipamentos e os planos de emergência!



Trata-se de um estatuto burocrático, processual e confuso. O regime de faltas, que decreta, é infernal. Ninguém, normalmente constituído, o pode perceber ou aplicar. Os alunos que ultrapassem o número de faltas permitido podem recuperar tudo com uma prova. As faltas justificadas podem passar a injustificadas e vice-versa. As decisões sobre as faltas dos alunos e o seu comportamento sobem e descem do professor ao director de turma, deste ao conselho de turma, destes à direcção da escola e eventualmente ao conselho pedagógico. As decisões disciplinares são longas, morosas e processualmente complicadas, podendo sempre ser alteradas pelos sistemas de recurso ou de vaivém entre instâncias escolares. Concebem-se duas espécies de medidas disciplinares, as "correctivas" e as "sancionatórias". Por vezes, as diferenças são imperceptíveis. Mas a sua aplicação, em respeito pelas normas processuais, torna inútil qualquer esforço. As medidas disciplinares são quase todas precedidas ou acompanhadas de processos complicados, verdadeiros dissuasores de todo o esforço disciplinar. As medidas disciplinares dependem de várias instâncias, do professor aos órgãos da turma, destes aos vários órgãos da escola e desta às direcções regionais. Os procedimentos disciplinares são relativos ao que tradicionalmente se designa por mau comportamento, perturbação de aula, agressão, roubo ou destruição de material, isto é, o dia-a-dia na escola. Mas a sua sanção é de tal modo complexa que deixará simplesmente de haver disciplina ou sanção.



O estatuto cria um regime disciplinar em tudo semelhante ao que vigora, por exemplo, para a administração pública ou para as relações entre administração e cidadãos. Pior ainda, é criado um regime disciplinar e sancionatório decalcado sobre os sistemas e os processos judiciais. Os autores deste estatuto revelam uma total e absoluta ignorância do que se passa nas escolas, do que são as escolas. Oscilando entre a burocracia, a teoria integradora das ciências de educação, a ideia de que existe uma democracia na sala de aula e a convicção de que a disciplina é um mal, os legisladores do ministério (deste ministério e dos anteriores) produziram uma monstruosidade: senil na concepção burocrática, administrativa e judicial; adolescente na ideologia; infantil na ambição. O estatuto não é a causa dos males educativos, até porque nem sequer está em vigor na maior parte das escolas. Também não é por causa do estatuto que há, ou não há, pancadaria nas escolas. O estatuto é a consequência de uma longa caminhada e será, de futuro, o responsável imediato pela impossibilidade de administrar a disciplina nas escolas. O estatuto não retira a autoridade na escola (aos professores, aos directores, aos conselhos escolares). Não! Apenas confirma o facto de já não a terem e de assim perderem as veleidades de voltar a ter. O processo educativo, essencialmente humano e pessoal, é transformado num processo "científico", "técnico", desumanizado, burocrático e administrativo que dissolve a autoridade e esbate as responsabilidades. Se for lido com atenção, este estatuto revela que a sua principal inspiração é a desconfiança dos professores. Quem fez este estatuto tinha uma única ideia na cabeça: é preciso defender os alunos dos professores que os podem agredir e oprimir. Mesmo que nada resolva, a sua revogação é um gesto de saúde mental pública.


in Público, por António Barreto

segunda-feira, 24 de março de 2008

O professor - essa máquina

100% de assiduidade para poder ter a classificação Excelente.
95% de assiduidade para poder ter a classificação Muito Bom.

Esta assiduidade exigida é absoluta. Não contempla faltas justificadas ou injustificadas. Não flexibiliza perante doença, acidentes ou prestação de auxílio a filhos menores. Professor não tem furo no pneu, não tem filhos com consultas no médico, não adoece, não tem familiares a falecer. Ou, se tiver, convém que seja TUDO no período de interrupção lectiva.

Já somos obrigados a ter as nossas férias nos meses de verão - época alta. Parece que vamos tentar juntar doenças, falecimento de familiares, consultas no médico e outros azares para essa altura.

sexta-feira, 21 de março de 2008

Onde está a Ministra?

Ela aparece 40 vezes por semana na televisão. Cara de poucos amigos, geralmente. Não gosta que lhe façam muitas perguntas que fujam muito daquilo que decorou previamente - pedagogicamente falando, esta Ministra seria uma péssima aluna, daquelas que decoram em vez de entenderem a matéria - e responde torto! Isto quando se digna a responder, como ficou esta semana provado no parlamento, que até mereceu o comentário irónico de Ana Drago.

Pois bem, tem-nos entrado pela casa dentro, via TV, a falar dos "professorzecos" (como ela nos chama), da avaliação, das escolas que querem fazer a avaliação, do enormíssimo sucesso do seu trabalho, do grandioso legado que, certamente, nos deixará.

Esta semana veio a público o caso da agressão feliz ou infelizmente filmado por um aluno. Deixem-me analisar esta frase antes de seguir em frente. "Agressão". Uns papás dirão que exagero, que a aluna não agrediu ninguém. Provavelmente, os mesmos papás que, caso a situação se invertisse ou se um professor ousasse tocar no proverbial cabelo de sua menina classificariam o acto como uma "brutal agressão". Nada que me tire o sono, portanto. O "feliz ou infelizmente filmado", por seu lado, reporta-se à filmagem em si, feita com um telemóvel. Por um lado é bom que situações destas venham a público, para que se veja o que é, na verdade, o trabalho de um professor. Pois é, é que os filhos que vocês "educam" aí em casa desta forma, agem desta forma connosco. Não são os santinhos que alguns pintam, de auréola redondinha a beijar-lhe a testa. Por outro, quem o filmou, fê-lo utilizando um equipamento proibido na sala de aula. Fê-lo, filmando e rindo-se alarvemente da situação em vez de intervir. Gozou com a situação em vez de a criticar, porque ele também é prejudicado por não ter a aula que deveria ter - e ser do seu interesse. No fundo, foi mais um idiota a aplaudir a festa.

Mas adiante. A mesma Ministra que tanto tem aparecido, o mesmo Primeiro-Ministro que tanto tem esganiçado a voz a defender as políticas e o resultado das políticas da sua subordinada, a mesma Ministra que, no fundo, é a nossa "patroa", desta vez calou-se.

Nem uma palavra de apreço, de solidariedade, de crítica a este tipo de alunos que - pusesse ela os pezinhos numa escola e ficaria a saber - estão em todo o lado. O meu "patrão" não defendeu a minha classe. Remeteu-se ao silêncio. A senhora que apregoa os grandes resultados das suas políticas foi incapaz de assumir que este é um sub-produto das mesmas, resultante da desautorização, da falta de respeito e do enxovalhamento público da figura do Professor que ela própria promoveu. Tudo são rosas! Os números dizem-nos tudo o que há para dizer! Todos os alunos passam de ano, o número de alunos a desistir do ensino desceu a pique, há cada vez mais alunos a concluírem o ensino obrigatório! Fantástico! Soem as trombetas!

Mas não são melhores, senhora Ministra! Podem ter o 9º ano, mas são, em muitos casos, aquilo que se vê ali. Gentinha sem educação, sem qualquer respeito pela autoridade, sem métodos de trabalho, sem responsabilidade cívica ou laboral, sem controlo, sem brio. São o resultado do esplendoroso culto da mediocridade por si (e pelos anteriores ministros, vá, que a culpa não será só sua) implementado, cultivado, acarinhado. E, senhora Ministra, um dia recolherá os frutos que semeou. Terá uma força de trabalho embrutecida, de serviços mínimos. De maus advogados, engenheiros, médicos, enfermeiros, polícias e bombeiros. De maus empregados de mesa ou de caixa de supermercado. De maus pais que, no seguimento destes de hoje em dia, continuarão a formar maus filhos, sem educação. É ESTA a cultura do país, não é a dos livros. É ESTA a imagem do nosso país. É que não adiantam os números nos seus relatórios a dizer-nos que os alunos acabam o 9º ano. É que muitos acabam-no apesar deste tipo de atitudes e posturas que não são uma excepção à regra mas sim o dia a dia nas escolas. E acabam-no porque estão protegidos e encobertos por um sistema que tudo faz para que não deixa que os alunos saiam da escola, mas que pouco ou nada faz para que APRENDAM na escola.

E andar na escola não implica aprender, como qualquer pessoa com bom senso sabe.