Ela aparece 40 vezes por semana na televisão. Cara de poucos amigos, geralmente. Não gosta que lhe façam muitas perguntas que fujam muito daquilo que decorou previamente - pedagogicamente falando, esta Ministra seria uma péssima aluna, daquelas que decoram em vez de entenderem a matéria - e responde torto! Isto quando se digna a responder, como ficou esta semana provado no parlamento, que até mereceu o comentário irónico de Ana Drago.
Pois bem, tem-nos entrado pela casa dentro, via TV, a falar dos "professorzecos" (como ela nos chama), da avaliação, das escolas que querem fazer a avaliação, do enormíssimo sucesso do seu trabalho, do grandioso legado que, certamente, nos deixará.
Esta semana veio a público o caso da agressão feliz ou infelizmente filmado por um aluno. Deixem-me analisar esta frase antes de seguir em frente. "Agressão". Uns papás dirão que exagero, que a aluna não agrediu ninguém. Provavelmente, os mesmos papás que, caso a situação se invertisse ou se um professor ousasse tocar no proverbial cabelo de sua menina classificariam o acto como uma "brutal agressão". Nada que me tire o sono, portanto. O "feliz ou infelizmente filmado", por seu lado, reporta-se à filmagem em si, feita com um telemóvel. Por um lado é bom que situações destas venham a público, para que se veja o que é, na verdade, o trabalho de um professor. Pois é, é que os filhos que vocês "educam" aí em casa desta forma, agem desta forma connosco. Não são os santinhos que alguns pintam, de auréola redondinha a beijar-lhe a testa. Por outro, quem o filmou, fê-lo utilizando um equipamento proibido na sala de aula. Fê-lo, filmando e rindo-se alarvemente da situação em vez de intervir. Gozou com a situação em vez de a criticar, porque ele também é prejudicado por não ter a aula que deveria ter - e ser do seu interesse. No fundo, foi mais um idiota a aplaudir a festa.
Mas adiante. A mesma Ministra que tanto tem aparecido, o mesmo Primeiro-Ministro que tanto tem esganiçado a voz a defender as políticas e o resultado das políticas da sua subordinada, a mesma Ministra que, no fundo, é a nossa "patroa", desta vez calou-se.
Nem uma palavra de apreço, de solidariedade, de crítica a este tipo de alunos que - pusesse ela os pezinhos numa escola e ficaria a saber - estão em todo o lado. O meu "patrão" não defendeu a minha classe. Remeteu-se ao silêncio. A senhora que apregoa os grandes resultados das suas políticas foi incapaz de assumir que este é um sub-produto das mesmas, resultante da desautorização, da falta de respeito e do enxovalhamento público da figura do Professor que ela própria promoveu. Tudo são rosas! Os números dizem-nos tudo o que há para dizer! Todos os alunos passam de ano, o número de alunos a desistir do ensino desceu a pique, há cada vez mais alunos a concluírem o ensino obrigatório! Fantástico! Soem as trombetas!
Mas não são melhores, senhora Ministra! Podem ter o 9º ano, mas são, em muitos casos, aquilo que se vê ali. Gentinha sem educação, sem qualquer respeito pela autoridade, sem métodos de trabalho, sem responsabilidade cívica ou laboral, sem controlo, sem brio. São o resultado do esplendoroso culto da mediocridade por si (e pelos anteriores ministros, vá, que a culpa não será só sua) implementado, cultivado, acarinhado. E, senhora Ministra, um dia recolherá os frutos que semeou. Terá uma força de trabalho embrutecida, de serviços mínimos. De maus advogados, engenheiros, médicos, enfermeiros, polícias e bombeiros. De maus empregados de mesa ou de caixa de supermercado. De maus pais que, no seguimento destes de hoje em dia, continuarão a formar maus filhos, sem educação. É ESTA a cultura do país, não é a dos livros. É ESTA a imagem do nosso país. É que não adiantam os números nos seus relatórios a dizer-nos que os alunos acabam o 9º ano. É que muitos acabam-no apesar deste tipo de atitudes e posturas que não são uma excepção à regra mas sim o dia a dia nas escolas. E acabam-no porque estão protegidos e encobertos por um sistema que tudo faz para que não deixa que os alunos saiam da escola, mas que pouco ou nada faz para que APRENDAM na escola.
E andar na escola não implica aprender, como qualquer pessoa com bom senso sabe.
sexta-feira, 21 de março de 2008
Onde está a Ministra?
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