Fica um excerto de um texto escrito no jornal "Sexta", por José Pedro Gomes:
Depois de termos todos percebido a necessidade de grandes mudanças nas políticas que têm sido seguidas por todos os partidos de Governo nos últimos? 30 anos, de percebermos que o mérito nem sempre é a forma de se progredir nas carreiras, etc, chegou um senhor muito direitinho que disse, aos gritos e pausadamente, que ia mudar esse estado de coisas e finalmente fazer as reformas que todos sentimos como necessárias. Pensou, pensou, juntou mais alguns que alinhassem com ele, mas que não levantassem muitas ondas, e chegou ao Governo.
Aí começou a fazer uma parte do que tinha dito e começou a mudar coisas. Mas não a mudar o fundo que realmente interessava?
Na Cultura não mexeu em nada de importante ? o que já é uma política relevante.
Nas Obras Públicas andou à pancada com o país até ter de reconhecer que o «deserto» da margem sul era relevante. Mas continuou, através de PIN artificiosos a dar cabo do país ainda protegido, o que é relevante para a malta do betão.
No Ambiente ainda não fez nada de jeito, mas isso não é relevante.
Na Saúde substituiu urgências e maternidades por ambulâncias mesmo antes de as comprar, mas isso é um «esquecimento» irrelevante?
Na Justiça fez uma coisa da maior relevância: tirou as férias aos juízes ? o que não mexeu um milímetro nos atrasos «normais», mas era relevante.
E na Educação fez a coisa mais relevante, pela qual todos os portugueses estavam à espera há anos: actuou como se fosse do CSI Miami e finalmente descobriu uns verdadeiros culpados para incriminar: os professores. Já há anos que vários ministros vinham apontando para este desfecho, mas sempre sem medidas enérgicas. Isso não é problema para esta equipa de ferozes criminologistas.
Há taxas alarmantes de abandono escolar? Vamos buscar todos os corrécios que andam a cuspir no chão da sala de aula e a insultar os professores, quando não a faltar às aulas pura e simplesmente ou a bater-lhes, e vamos pôr os energúmenos (os professores, claro!) a trabalhar nuns programas especiais para os coitadinhos (os alunos corrécios, claro), passarem de qualquer maneira. Isso é favorecê-los contra aqueles que se esforçam e estudam verdadeiramente? Isso é irrelevante.
E não haverá mais nenhum aluno que saia da escola sem o 9.º ano. Porque aumentam o seu nível de esforço? Não, que parvoíce é essa?! Porque têm de passar para melhorar as nossas estatísticas e pô-las ao nível do melhor na Europa e para a senhora ministra poder argumentar que fez o seu trabalho.
Os exames nacionais foram decretados irrelevantes, porque criavam uma discriminação entre os que têm boas notas e os maus! E toca de baixar o nível de dificuldade das perguntas dos testes de aferição, por exemplo, para aumentar o nível de facilidade em acabar a escolaridade.
Portanto fez-se uma política clara e sem concessões: baixa-se o nível da avaliação dos alunos, para aumentar o nível de estatística, e aumenta-se o nível da avaliação dos professores para eles se sentirem em liberdade condicional, como criminosos que são. E serão avaliados pelos energúmenos que também lhes batem e pelos paizinhos deles, que batem em todos, se for preciso, que é para perceberem quem manda.
Agora, reforço da disciplina na escola, sem a qual não se aprende? Autoridade dos professores sobre os alunos, e não o contrário? Programas dimensionados correctamente em tamanho e dificuldade? Aferição exigente, para aumentar efectivamente a qualidade do ensino e dotar os alunos de melhores ferramentas para a universidade ou vida activa? Isso é irrelevante!
Portanto, tomar finalmente medidas para combater a destruição de que o ensino público tem sido alvo? Ainda não. O nível do ensino oficial vai baixar ainda mais e produzir hordas de alunos ignorantes e sem hábitos de trabalho (a tão famosa «produtividade»), que vão ser chacinados no mundo do trabalho pelos alunos que vão sair das escolas privadas. E vão ser estes, mais uma vez, que vão mandar no país daqui a 40 anos. Onde é que está a democracia disto? Isso não é relevante.
Claro que este Governo também fez coisas boas. Mas é para isso que é pago, não é verdade? Ou isso também é irrelevante?
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2 comentários:
Todos sabem que é proibido fumar nas escolas...apesar de existir na escola do meu filho uma sala de não fumadores com sistema de ventilação os professores não fumam dentro do recinto escolar ...As regras cumprem-se mas o que é estranho é que os alunos fumam ,apesar das"queixas " de professores ,o C. E. SABE e não faz nada , não pode incomodar os meninos ...Desculpem ,mas se as regras são para serem cumpridas ,têm de ser por todos ...é este tipo de actuação que retira autoridade aos professores ,muitos Executivos deixam os professores sózinhos ,dão as turmas mais dificeis aos mais jovens e quando estes enfrentam problemas graves de indisciplina ,sorriem ,não fazem nada e afirmam que ele ou ela" não sabem impor-se "...Tudo uma hipocrisia ,a autoridade deve vir dos C.E....E TRANSMITIDA AOS PROFESSORES ....
sempre defendi a escola publica mas esta só se preocupa com estatísticas ,estou a pensar sériamente mudar o meu filho para o privado...estou a ceder aos desejos deste governo miserável mas não quero esta escola violenta ,sem valores para o meu filho !
digo mais, a autoridade deve vir do ministério para as direcções regionais, para o CE, para os professores.
Essa dos executivos delegarem muitas tarefas para professores mais inexperientes (ou contratados, por oposição aos professores dos quadros) já não é nova. Muitos dos professores acomodados são-no perante a complacência dos seus pares.
Sou professor há pouco tempo e, felizmente, nunca me calhou tal caso na rifa, embora já tenha tido oportunidade de o comentar com os CEs dessas escolas. Não fui director de turma nunca. Mas, pensando bem, faria sentido um professor que tem andado a saltitar de escola em escola, acabado de chegar a uma escola, sem ter conhecimento do meio sócio-económico-cultural da comunidade escolar ter um cargo de responsabilidade desses, ficando outros docentes mais ao corrente da comunidade que têm em mãos sem essa tarefa?
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