Dá para trocar? Presumo que ainda esteja na garantia!
Trabalho sob a alçada de dois Ministérios. O da educação e o do Emprego e da Formação profissional.
Um toma-me como um activo de valor. O outro toma-me como parte de um encargo tremendo. Só dou despesas.
Um paga-me bem. O outro paga-me mal (por vezes a rondar 1/4 do vencimento que o outro me dá!).
Um trata-me bem, incentiva-me, valoriza o meu trabalho, propõe-me novos trabalhos, inclusivamente para bem longe da minha área de residência, por vezes cobrindo as despesas da mesma. O outro menospreza-me. Trata-me por "professorzeco", rotula-me de preguiçoso, mau profissional, distribui posições entre mim e os meus colegas por todo o país, sem ter em conta as proximidades geográficas, subestima-me, pressiona-me e retira-me toda e qualquer autonomia.
Um fornece-me todos os meios que necessito para desenvolver o meu trabalho. Tenho sala, projector, mesas, cadeiras, canetas, portátil... Se algo faltar, ligo num dia, resolvem o problema no dia seguinte. O outro diz-me para eu me amanhar com o que tenho. Sou eu que compro as minhas canetas, o meu portátil para trabalhar em casa e no trabalho, dá-me material insuficiente para o número de alunos de que disponho, material defeituoso e inadequado.
Um tem critérios e conteúdos bem pensados, estruturados e fundamentados. O outro escreve que devo leccionar temas como AS400, Linux ou Macintosh e não se dá sequer ao trabalho de providenciar o material ou a correcção dos manuais fornecidos (VENDIDOS!) aos alunos.
Um vê o público alvo do meu trabalho como a futura ou actual mão de obra de um país. Exige-lhe trabalho, mas dá-lhe todas as condições para que tenha sucesso no mesmo. O outro vê o público alvo do meu trabalho como putos idiotas e sem perspectivas. Atiram-nos para a minha sala e eu que faça deles o que bem entender ou conseguir. Se falhar, a culpa será, obviamente, minha.
Um responsabiliza os formandos ou os seus responsáveis (patrões ou encarregados de educação) e obriga-os a prestar contas ao mínimo sinal de incumprimento. O outro desresponsabiliza os alunos, os encarregados de educação destes e as respectivas famílias. Deposita tudo sobre os meus ombros. Se falho, sou mau. Se os alunos têm sucesso, é porque são bons.
A lista poderia continuar, mas penso que dá para perceber o meu pedido. Sou adulto. Consigo perspectivar que os miúdos que estão hoje nas escolas serão os meus médicos, advogados, empreiteiros, polícias de amanhã. Custa-me cultivar nestes as sementes do facilitismo e da mediocridade. Custa-me ver o MEU DINHEIRO (sim, porque eu também sou contribuinte!) tão mal empregue nos futuros destes jovens e custa-me ver o acréscimo de custos que tem corrigir estes erros mais tarde, por outro Ministério. Custa-me ver que se dá tão pouco pelos que estão em idade de aprender para depois se ser obrigado a investir na formação daqueles que já deveriam ter um emprego. Essa correcção de mentalidades, de posturas, de visão e de perspectiva sai-nos caro, do nosso bolso. E sai-me a mim, do corpo.
Um obrigado ao Ministério do Emprego e da Formação Profissional. Recrutou-me, valorizou o meu trabalho, pagou-me pelo meu desempenho, interessou-se pela minha formação, pretendendo mais de mim e oferecendo mais em troca. Deu-me todas as condições para realizar o meu trabalho e exige de mim um trabalho impecável, que me esforço por cumprir. Quando cumpro, tenho garantias de que em breve serei contactado para mais trabalho.
O ministério da educação foi praticamente obrigado a ter-me a seu cargo. Desvaloriza o meu trabalho, seguindo a máxima de que "paga o justo pelo pecador". Paga-me mal. Espera que eu me mantenha actualizado, mas não me paga a formação, não me cede tempo para estudo e para evolução, nem teria moral para o fazer, tamanho o desenquadramento a que eu vejo votado o tema "informática". Sem acréscimo de formação e de um ano para o outro, espera-se que eu tenha o mesmo desempenho a leccionar Office (da Microsoft, obviamente, porque o OpenOffice ou outros projectos Opensource não nos servem, porque são GRATUITOS), hardware, bases de dados, internet, programação em basic, java, C++, php, html, multimédia, etc. Já o tenho dito várias vezes. Que competência teria um treinador de futebol se pusesse um ponta de lança a jogar a defesa esquerdo? Um guarda-redes a jogar a extremo direito? Pois, para este ministério, os professores são todos iguais e podem ser todos avaliados pelo mesmo. Para este ministério, os professores de informática são todos iguais também. Tanto dão C++ como dão Word e PowerPoint, tanto dão Access como dão programação em Visual Basic...
Como é possível esta diferença de tratamento? Tanto em relação ao docente/formador como ao formando/aluno. Porque podem os alunos das escolas públicas ficar com o refugo e os formandos dos centros de formação, com a mesma idade ou mais velhos, ter direito a outras regalias e atenções? Porque é que os alunos são vistos como um encargo quando estão na idade de aprender e só depois, quando é, muitas vezes, tarde demais, é que são vistos como potenciais activos? Porquê o desfasamento entre a educação e o emprego? Não estão eles interligados? O emprego não depende da educação?
Extinga-se o ministério da educação! A fazer o que fazem e da maneira que fazem, só provocam maiores encargos ao país a longo prazo - a reeducar aqueles a quem bastaria educar.
Coloquem todos os docentes sob a alçada do ministério do emprego e da formação profissional. Eles, certamente, agradecerão. Eu também, principalmente enquanto contribuinte.
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1 comentário:
Adorei.
Sou psicólogo de um Serviço de Psicologia e Orientação e reconhecço a diferenaça , que lamento.
Enquanto o IEFP tem sistemas modernos de testes psicológicos computorizados, nós nem de papel e lápis conseguimos obter da DRE.
Obrigado.
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